Semana péssima.
A garganta, inflamada, não permite que minha voz ressoe por aí. Se fosse Marlon Brando em "O poderoso Chefão" seria lindo. Mas não é. Mas não sou.
Entreguei o TCC com dois dias de atrasos e R$40,00 gastos por desespero e burrice. E ainda acho que não cheguei a uma conclusão final. Inferno de semana.
E eu beirando os 36.
E acordo no dia 16 de junho, enfim.
Primeira coisa que faço: procurar aquele CD do Zé Ramalho cantando Bob Dylan.
As pessoas falaram mal do trabalho, mas tem umas músicas boas, sim; é só saber ouvir.
E eu ouço "tá tudo mundando".
Dylan puro.
E eu volto aos meus 16 anos, ouvindo o "Highway 61 revisited" pela primeira vez.
O mesmo "revisited" que influenciaria "Rendez vous revisitado" e "G.R.A.ve" (Geladeira Revisitada Amarela e Vermelha". Dylan é tudo. O descobri duas vezes: na música e na poesia. E, de fato, fez minha cabeça - e como fez!
E certa vez, no Sesc Vila Mariana, quando eu ganhei um disco do Dylan pelas mãos do Marcelo Nova e do Luiz Carlini?!? Meu, minha vida poucas vezes foi tão rock n roll! (depois dessa, só os encontros com Jorge Mautner, quando ele me deu o "Deuses da Chuva e da Morte" e quando o Nasi tentou roubar meu isqueiro tipo zippo só que imitação barata que aliás até hoje nunca falhou diferente de uns zippos que falham mesmo.)
Por que volto a Dylan?
Não sei.
A verdade é que ainda me sinto com 16.
Não acho que fiquei muito mais inteligente do que já era nesta época. Talvez, sim, eu acho, mais esperto, mais observador, sabendo uma coisinha ou outra agora, como quando ficar de boca fechada pra não se estrepar e como flertar com uma garota - mesmo que isto não vá dar em nada, como antigamente.
Tirando isto, meu violão ainda é o mesmo: sem muita técnica, mas com muito rock n roll; meus contos também circulam os mesmos temas; aliás, começo a notar que são a continuação do mesmo num universo que se estende e existe, pulsante. Os amigos vinhos melhoram e são mais queridos a cada ano - e os amigos vinagres escorrem pelo ralo com mais rapidez hoje em dia.
Ainda amo animais.
Ainda acredito no amor,
nos filmes,
e que as mulheres são uma espécie de deusas, como todas as qualidades e defeitos que uma deusa deve ter. Ainda me sinto
inconsequente,
irreverente,
irresponsável,
indaguento,
apaixonado
e violento.
Menos cabelos, todos os dentes, mas alguns já sem nervos para não doer. Ainda tenho sede de saber, descobrir, estar na noite com os amigos, flertar amores, me dedicar a uma paixão única, ouvir rock dos 80 no volume máximo, ler bobagens e, sobretudo, descobrir caras como Poe, Kafka, Machado de Assis, Albert Camus, Lou Reed, David Bowie, Iggy Pop e outras coisas fantásticas que descobri antes dos 20 e que até hoje me dizem muito, me mostrando novos mundos e novas descobertas,
como se eu ainda tivesse 16.
Ainda como se, pela primeira vez,
eu colocasse Bob Dylan em meus ouvidos.
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