sábado, 2 de julho de 2011

SOBRE SIMPLÓRIUS – UM ENSAIO

(Claudemir Darkney Santos por Davi Farias Alves, aluno do 3º ano primário da escola municipal Vicente Amato, 2006)


Nota: revirando meus documentos, encontrei este texto onde eu comento sobre a criação de uma canção. Achei de bom grado colocar aqui no blog para revelar um pouco do funcionamento da minha mente criadora. Com vocês também é assim? A realidade e a fantasia da arte se entrelaçam e se confundem? Gostaria de saber...
Bem vindos a Simplórius!

SIMPLÓRIUS

Quarta observei seus olhos
Capturando linhas no ar
Vi nos traços de seu rosto
Sua alma em cor exalar
Ela registra em belas formas
Imagens saborosas em seu paladar
Será que ela me percebe cego a olhá-la demais?

Hoje a chuva me persegue
Saí da cama pra me molhar
Eu caminhei por ruas tão amigas
Por onde mais eu poderia andar?
Amanhã São Paulo será um reino
Onde a princesa irá passear
Serei um pobre nobre vassalo a olhá-la demais?

Tenho sonhos de um rei (mas)
Sou um simplório espertalhão
Quero derrotar o dragão (e)
Livrar o castelo da maldição!

 Vejo estrelas em nosso céu
As nuvens estão a se mandar
Se Sampa é uma cidade fria
Isto não vamos evitar
Só espero que a terra não trema
Quero ter em quem me segurar
Será que ela percebe seus encantos enquanto eu a olho demais?
(02/05/08 – 22:31h)


Todo o artista que se preze tem uma visão particular sobre o mundo, e esta visão guia sua criação artística – assim acredito. A releitura da vida através de uma linguagem artística desencadeia percepções até então desconhecidas e não imaginadas no meio em que vivemos. Assim, a obra nasce. Comigo, o processo não é diferente. Segundo um amigo (salve, Josué da Sabesp, meu véio!), meu olhar sempre busca personagens no cotidiano, colocando pessoas normais em visões extraordinárias. Acho que é meio assim. Acho que foi assim que nasceram a bela princesa medieval e o abobado Simplórius – uma linha mitológica que abre espaço para muita criação artística, musical, visual ou literária. Mas como foi que a encontrei?

2008. Aula de Medievalismo na faculdade. Segundo semestre. De repente, ela estava lá. Bem próxima. Muito bela. Delgada, séria, olhos castanhos nublando a alma tímida e o universo reservado a poucos. Claro que me enxeri e fiz uma ou duas perguntas. Respostas monossibiladas (meu Deus, será que esta palavra existe? Se não existe, acabei de criar!) e só. Antes do final da aula, ela levantou e partiu. Meu olhar a acompanhou passando pelas cadeiras, cruzando o professor e saindo pela porta sem olhar pra trás. Olhei para o lado e Sidney também acompanhava aquela beleza particular, notada por poucos. Sorri para o bom e velho Sidney.
“Linda menina!” – eu disse.
“Sim” – ele respondeu – “Uma princesinha!”
Pronto. Nascia a princesa medieval.

Com o tempo, como é inevitável numa sala com poucos alunos, nos aproximamos acidentalmente para fazer um trabalho, e eu descobri outra qualidade da garota: ela era dona de uma inteligência impar. De qualquer forma, fiquei surpreso ao perceber que aquela menina tímida e reservada era uma mulher com objetivos esboçados e conquistas pessoais bem sucedidas. Aí sim percebi o quanto fui ingênuo ao pensar que a Princesa era apenas um rosto bonito. E nasceu Simplórius; um garoto bobinho e ingênuo com sonhos dignos de um rei. A canção veio em seguida, e desta vez, com letra e música que muito me agradou – e agradou muita gente enjoada minha gravação tosca que realizei em casa sem brilho, desafinada, mas muito sincera.   

São Paulo, 07 de Novembro de 2008. 07h04m
(manhã nublada, mas acho que o sol vai chegar!)

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