quarta-feira, 31 de julho de 2013

CONTOS DE BELLOTO PODERÁ SER PUBLICADO PELA EDITORA KAZUÁ

Os originais de CONTOS DE BELLOTO foram apreciados pela Editora Kazuá e a publicação de DESPEDAÇANDO FANY, com os contos RENDEZ VOUS REVISITADO, FANY: UM TIRO EM SI MESMA e DEUS CANSADO DE ANDAR, está em negociação. Claudemir Santos esteve na Editora localizada na Santa Cecília (centro de São Paulo) em 26 de Julho e conversou com Evandro Rhoden, Editor da Kazuá. O livro será possivelmente ilustrado e poderá ser lançado em Setembro.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

SOBRE OS FANTASMAS E DEMONIOS DE SÃO MIGUEL


Nunca foi segredo pra ninguém minha paixão pelas histórias de terror. Meus primeiros terrores vieram de histórias contadas pelos nordestinos que frequentavam minha casa quando eu era criança e ficava entre os adultos. Um terror primitivo: lobisomens que invadiam casas, fantasmas que voltavam para proteção ou por vingança – um universo de medos impressionantes. Eu mesmo juro que vi o diabo naquela noite em que eu tinha seis anos, quando ele puxou minhas cobertas e desapareceu antes de me tocar, assim que eu fechei os olhos.

Mas, antes que eu percebesse, novos medos foram trazidos pela televisão; na antiga Record, que me premiava toda a sexta com um filme de terror, sua maioria da Hammer, com Christopher Lee eternizando Drácula no meu coração. Amo este medo até hoje!

E não demorou muito então:aos dez anos, a biblioteca Raimundo de Menezes me trouxe terrores diferenciados e refinados em forma de livros de Kafka, Stoker, Shelley, King, Stenvenson... O saudoso diretor emestreAtílio Garret me apresentou Edgar Allan Poe e, por fim, retornei às lendas e mitos do folclore brasileiro que, na verdade, foi o inicio de tudo e é abordado neste novo trabalho.

Há três lugares em São Miguel que sempre me impressionaram: a capela dos índios, o terreno do antigo cemitério da Nordestina e o cemitério da Saudade.

A capela dos índios, construída em 1622, uma das mais antigas do Brasil, antes dessa reforma e aprisionamento, vivia aberta ao público, abandonada em sépia na praça do Forró, que alguns teimam em chamar de Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra, não se sabe porquê. Perdi a conta de quantas fezes entrei nela desde a infância. Abandonada, iluminada pelo sol ou pela chuva, ela parecia congelada no tempo, um fantasma que se deteriora aos poucos, teimando ir para o além. Não havia como não gravá-la na memória. Quando li em uma HQ do Capitão Mistério a adaptação de “A conversão do Diabo”, de Leonidas Andreiev, lá por volta dos meus 09 anos, eu não tinha cenário melhor para o conto. Aliás, não tenho até hoje.  

         O antigo cemitério da Nordestina, entre as décadas de 80 e 90, ainda possuía escombros de túmulos e ossos espalhados pelo chão. O tom de cruzes azuis e pedaços de caixão apodrecido eram reconhecidos com facilidade.

         Eu e meus colegas mais destemidos visitávamos o Cemitério da Saudade. Era uma grande valentia cruzar os corredores lendo nomes em lapides – uma vez encontrei um com o nome de minha mãe. Foi assustador!

         Em “Demônios e Fantasmas de São Miguel”, eu trago a tona alguns destes seres que povoam o bairro e que a tecnologia e a luz elétrica não podem apagar. Juntei às minhas memórias uma pequena recordação de Mariana Santana (jovem atriz do Alucinógeno Dramático, que atuou em Dom Casmurro, Fausto de Rua e A Pata do Macaco) escrita por ela mesma, fechando este volume, que não visa revolucionar e nem trazer nada de novo. Pelo contrário: é um resgate inicial de uma pureza que se perde em meio à tecnologia e enlatados artificiais. Espero que vocês gostem tanto quanto eu gostei.

         Leia na cama, antes de seu adormecer.
Boa leitura.
São Paulo, 19 de Abril de 2013.
23h45


LIVRETO "FANSTAMAS E DEMONIOS DE SÃO MIGUEL" SERÁ LANÇADO DIA 20 DE JULHO NA CASA AMARELA ESPAÇO CULTURAL

"Fantasmas e Demônios de São Miguel", o novo livret o de Claudemir Darkney Santos, será lançado sábado, 20 deJulho, no ARTE CANAL  que acontecera na CASA AMARELA ESPAÇO CULTURAL (Rua Julião Pereira Machado, 07 - São Miguel, zona leste de São Paulo). Além do lançamento, o evento também contará com o show NOVO TESTAMENTO, do grupo G.R.A.Ve. e com uma apresentação especial do multi artista IVAN NERIS. O evento começa as 20h30.


ENTRADA FRANCA

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

AS MENINAS DE MOGI FALAM SOBRE BELLOTO

Em 2004, uma namorada que estudava no CEFAM levou os contos de Belloto para suas amigas lerem. Ao final da leitura, ela pediu que comentassem o trabalho. O resultado foram três críticas sobre o universo do espectro solitário. Seguem os textos digitados.
 
 
14/09/04
 
Discorra sobre os contos que você leu, tais como:

“Do  amor ao crime”

“Bete dos olhos azuis”

“O observador”

“No dia que ela chegar”

De Claudemir Santos

 

Obs:

Deixe seus dados, opinião pessoal sobre o que sentiu em relação a cada conto, críticas, o que gostou ou uma mensagem ao autor. Obrigada!

 

Anteciosamente,                                                                              

Regiane A.

 

NOME: Michele L F

Idade: 18 anos

Residente em: M C

Estilo literário preferido: suspense

 

Não tem como ressaltar apenas um conto, pois todos são maravilhosos em estilos diferentes, e nos transpõem para dentro da história. Chega uma hora em que não somos mais leitores e sim personagens, com os seus mesmos medos, dúvidas e aflições. Mas confesso que o que mais me impressionou foi “Bete dos olhos azuis” por descrever os sentimentos das pessoas por uma vida inteira e não apenas o momento em que se desenvolve. E mais, as cenas e imagens que nos faz imaginar são fortes e marcantes e nos dá a impressão que realmente vimos, não apenas imaginamos.

 


NOME: Jaqueline V S

Idade: 18

Residente em: M C

Estilo literário preferido: não tem (leio todos)

 

Adorei! São contos, histórias de arrepiar tão o maior suspense, emocionam deixam a gente com a boca aberta e os olhos fixos para não perder nenhum pedaço.

Continue assim com a imaginação brilhante, para continuar prendendo a nossa atenção, fazendo a gente mergulhar nas histórias, e imaginando estas cenas incríveis e com tanta ação, cenas fortes. Você nos passa uma descrição dos personagens, seus sentimentos, suas reações, pensamentos, que são nítidas que passamos a entrar e sentir imaginar cada cena, palavra.

É incrível sua capacidade de escrever cada história com um enredo diferente e um final surpreendente. Parabéns!+-

 

NOME: Kalliny R F

Idade: 18 anos

Residente em:  M C

Estilo literário preferido: ?

 
As histórias são todas porcas, nojentas, depravadas, e eu não li ainda nenhuma que acabasse com final feliz, as formas como os personagens se expressam são fortes demais. E são essas características incomuns e o desenrolar das histórias e principalmente o final delas, que as tornam completamente irresistíveis de ler, maravilhosas e surpreendentes. E é uma pena que mais pessoas não possam participar delas, pois são fantásticas e apesar do gênero violento os enredos nada tem a ver um com o outro.

 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

CLAUDEMIR DARKNEY SANTOS FALA DE LITERATURA, BELLOTO E ROCK N ROLL EM SAPOPEMBA



Dia 20 de Abril, as 15h, Claudemir "Darkney" Santos estará no projeto "ENCONTRO DE AUTOR" na biblioteca da Fabrica de Cultura Sapopemba realizando entrevista e bate papo com os leitores sobre seu trabalho, literatura e rock n' roll. Entrada Franca. 

ENCONTRO DE AUTOR FABRICA DE CULTURA SAPOPEMBA CONVIDA CLAUDEMIR DARKNEY SANTOS
Rua Augustin Luberti, 300 (esquina com a rua André Thevet)
(atrás do Batalhão da Polícia Militar).
Próxima a Avenida Sapopemba (altura do nº 12.377).
Telefone para contato: (11) 2012-5803

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

DER SANDMANN: O HOMEM DA AREIA prévia do meu novo espetáculo

Há praticamente dez anos comprei um exemplar de "O Castelo Mal Assombrado", de E.T. A. Hoffmann. Já havia lido Andersen, Neil Gaiman e Edgar Allan Poe, mas me impressionou ler Hoffmann e o terror psicológico de seu "O homem da areia". O conto é de 1815, um pouco antes das vertiginosas alucinações de Poe. Me apaixonei, por certo. Em 2005, fiz uma leitura dramática no Quintal das Árvores, no extinto Sarau Arte Canal, produzido pelo Alucinógeno Dramático na época.
No final do ano passado, revirando papéis em busca de uma adaptação de Dom Casmurro para teatro, me deparei com o roteiro datilografado de 2005. Li, gelei e pensei: por que não Hoffmann? Assim nasceu o desejo de realizar esta montagem.


Mas adaptar o texto de Hoffmann não me bastava. Queria algo a mais. Resgatei Andersen e Neil Gaiman nesta viagem, além das lendas e mitos ligados a esta entidade dos sonhos. Descobri coisas interessantes, como a bruxa canadense que age igual à nossa Pisadeira, que desce do teto para nos paralisar e tirar nosso ar. Buscando um caminho cientifico, reencontrei a aterrorizante paralisia do sono - quem já teve sabe como é assustador! - juntamente com mais de uma dúzia de disturbios do sono que acabaram por gerar muitos mitos nas imaginações mais férteis. Me apropriei de tudo.
DER SANDMANN: O HOMEM DA AREIA conta a história de Natanael, que tem pesadelos seguidos de paralisia do sono. As crises estão piores porque ele acha que reencontrou Coppelius, o suposto assassino de seu pai, na pessoa de Coppola, um vendedor ótico. Clara, sua noiva, o convence a procurar um psiquiatra e se medicar. Para relaxar, Natanael viaja ao interior, para casa dos avós, mas os mitos e lendas como João Pestana, Maria da Manta, Pisadeira e outros derivados de Morpheus se fazem presentes de várias formas. Natanael termina o noivado e se apaixona por Olímpia, filha de um dos professores da universidade. O amor entre ele e Olímpia floresce, e ele se vê curado de seus medos e pesadelos. Mas o que Natanael não sabe é que a realidade, por vezes, é mais estranha que a própria imaginação. Ele então se encontra mergulhado em vida em seus piores pesadelos.
O monólogo será dinâmico. Interpretarei três personagens que farão o publico vivenciar a experiência de Natanael. Convidei Tarcisio Hayashi (G.R.A.ve) para compor a trilha sonora original e, é claro, utilizarei Jacques Offenbach, Freud, Jung, Metallica, Roy Orbison e outros que foram inspirados, direta ou indiretamente, pela existência de Sandman, e que não podem ficar sem citação.

Ninguém conseguirá dormir com um barulho desses. Todos irão sonhar com este novo espetáculo do Alucinógeno Dramático Teatro & Pesquisa.

TRECHO DO ROTEIRO

CENA 01 –  NA ESTRADA
MUSICA.
LUZ
Natan dorme tranqüilo mas começa a ser agitado por um pesadelo. Súbito. Paralisa. Acorda assustado e senta-se. Respira. Toma comprimidos.
NATAN
O que está vendo é realmente o que você está vendo?
Você já viveu um momento estranho e familiar ao mesmo tempo?
A sensação que percorre as veias, o olhar que alucina, a respiração que ofega...
Os amigos querem entender, mas como explicar o que se sente com palavras?
Palavras são frias, mortas e descoloridas.
Pra entender, é preciso viver...Mas só você pode viver isto!  (Telefone toca. Natan atende)  
Alô? Bom dia, amor. Tudo bem.
Sonhei.  O mesmo sonho.  Eu sei. Eu sei que não existe.
Preciso voltar pra estrada.  Te ligo, amor. Beijo. (desliga)
Você nunca deitou na cama e teve a impressão que havia um estranho ao seu lado, te observando no escuro?
                            (para Emilia) Tá olhando o quê?
Você não sabia que eu tenho um... pequeno distúrbio noturno?  
 Maldito pesadelo! E antes fosse apenas o pesadelo, mas o pior não é isso.  
Imagine, Emilia, você desperta de um pesadelo, mas não consegue se mexer, não consegue  falar, você mal respira. Está paralisada!
Em seu ouvido, uma voz dizendo coisas ruins, e você não pode falar, gritar ou pedir ajuda.
E não importa se isto dura segundos ou minutos. A eternidade do medo vai alongar o seu sofrimento.
Eu tento escapar. De dia, tomo Ritalina e, de noite, Clonazepam. O problema é que
eu sempre me esqueço de tomar um ou outro. Ou seja; só me medico depois de ter
sofrido o mal.
O mal...
Conheci o mal ainda criança. 
Toda noite, depois do jantar, a gente sentava perto do papai para ouvir suas histórias. Depois, mamãe nos mandava pro quarto, dizendo que o Homem da Areia tava chegando. No quarto, deitado na cama, eu ouvia os passos subindo as escadas. Era o homem da areia indo ver papai.
         Um dia perguntei pra mamãe quem era o homem da areia, mas ela riu e disse que ele não existia, que era só um jeito de dizer que a gente tava com sono. Não acreditei.
         De noite, perguntei pra empregada, e ela disse que era um velho que arrancava os olhos das crianças que não dormiam e levava para seus netos comerem no lado escuro da lua. Nela eu acreditei, e por anos vivi o terror de ouvir o homem da areia subindo as escadas para encontrar papai.
         Com dez anos, eu não acreditava mais na história, mas o homem da areia continuava subindo as escadas da minha casa. Uma noite me escondi no gabinete do papai pra descobrir quem era o homem de areia. Quando ele entrou, eu descobri que ele era Coppélius, o advogado.  
                  E ninguém seria mais assustador!
Imaginem um homem grande, ombros largos,
cabeça inchada, rosto amarelado, olhos verdes,
boca que retorcia sorrisos maldosos,  
mãos ossudas, compridas, imundas, peludas e nojentas.
          Papai o tratava como se fosse superior, mas mamãe também não gostava dele.  Ele trazia tristeza pra nossa casa.
NATAN
         Ele Abriu um armário. Dentro, cabeças humanas, sem olhos. “Os olhos! Os olhos!”, ordenou Coppelius ao meu pai.  Apavorado, sai do meu esconderijo e tentei fugir, mas Coppelius me segurou com uma força incomum e quis arrancar meus olhos.
         Desmaiei.

BLACKOUT

NATAN          
          Acordei nos braços de minha mãe.
          Perguntei se o Homem da Areia tinha ido embora.
          Ela disse que sim, que ele nunca mais voltaria.
          Mas ele voltou um ano depois.
          Lembro que mamãe olhou pra papai e ele disse que era a última vez.
          Mamãe nos levou pra cama.
          No meio da madrugada, uma explosão balançou a casa.
          Corremos para o gabinete do papai e ele estava sozinho, morto...
          ... E sem os olhos.
                                                                       LUZ
NATAN
         Os pesadelos não me deixam dormir desde então,
          mas agora estão mais intensos, e eu sei por quê.
Eu achei Coppelius. Ele finge ser um vendedor chamado Coppola.
Eu já sei tudo sobre ele, até mesmo o dia em que vou me vingar.
Mas eu cometi um erro:
          escrevi uma carta contando pro meu cunhado, a minha noiva leu e me enviou esta:
         Amado Natanael, achando que a carta enviada por ti era pra mim, abri. Devo dizer que fiquei muito apavorada; mal dormi à noite. Mas de manhã, após refletir, cheguei a conclusão que tudo é fruto da sua imaginação.  Coppelius, o advogado, era, sem dúvida, asqueroso, mas não acho que ele matou seu pai. Acredito que ambos faziam experimentos químicos ilegais. Quando tudo explodiu, Coppelius fugiu para não ser pego pela policia.  Por isto, meu amado noivo, esqueça o advogado – e esqueça o vendedor, também. O único poder que eles tem é o que você dá pra eles. O homem da areia não vai arrancar meus olhos. Com amor, Clara.
         Ela diz que Coppelius e Coppola não existem, e que vão desaparecer no ar assim que eu deixar de acreditar. Inferno! Claro que eles existem! ...E claro que não são a mesma pessoa! Um é alemão e o outro é italiano, mas um me lembra o outro, independente do buraco de onde tenha saído. Devem ser a mesma pessoa, mesmo que não sejam.
          Para evitar o fim do meu noivado, resolvi passar no psiquiatra e tomar os remédios. Entorpeci a vingança.
         Estou indo pro interior visitar meu avô e esquecer tudo isto.  Estou até levando um presente pra minha sobrinha. Ouviu, Emilia? Vou te deixar com a Selminha e voltar pra Cidade...
         O engraçado é que, quanto mais perto do interior, mais pareço mergulhar nos pesadelos...
MUSICA

BLACKOUT


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

RABERUAN EXPERIENCE

(Darkney, Raberuan e Marcelo San no evento Quintas Culturais)

Sinto informar a todos, amigos e artistas, que hoje faleceu nosso amigo, cantor, poeta e muitaas vezes mentor, companheiro de sorrisos e lágrimas: RABERUAN. Ele viveu a trilha louca de suas canções e cumpriu sua parte entre nós. Mesmo assim, decorrido seu tempo de existência, no universo fica um vazio a ser sentido que, se não preenchido pela sua presença fisica, ao menos pela sua obra. Palmas para o artista. O show terminou. Mas a obra persiste, eterna, fluente e moderna. Saudades...

foram as primeiras palavras que escrevi ao saber do falecimento de meu amigo. sepultado no sábado as 15h, notei que a página encerrou-se nesta tarde, quando Sheila Rios publicou a foto acima no Facebook. Eu, que senti os olhos úmidos no ultimo cortejo, molhei os rosto de lágrimas ao perceber que era o fim.

Conheci Raberuan através de Sacha Arcanjo, em seu quintal, e me apaixonei pela figura. Raberuan foi o primeiro artista do quintal do Sacha a elogiar - para Ivan Neris e não pra mim - meu estilo musical. Também foi o primeiro a ouvir minhas canções com atenção verdadeira e comentar sobre elas. Estive ao seu lado em vários momento, como no Show do KaiKan como operador de luz ou mesmo com a Banda Deus Ex Machina, tocando em um evento organizado por ele. Sempre me convidava ao palco e tentava me apresentar para pessoas que ele achava interessante eu conhecer. No mais, acompanhei um pouco de sua doença, vendo-o fazer pouco caso da morte ao beber e fumar sempre que dava na telha. O bicho era foda. Sexo, drogas e muita, muita música sempre com humor, lirismo e cordialidade, era uma figura e tanto. Ainda me apresentou um parceiro musical perfeito, seu sobrinho Eduardo Murena, com quem gravei no CD Ssacha 60 uma faixa e com quem espero poder gravar em breve. Fica a saudade, o vazio, o respeito e uma certa alegria em ter conhecido este cara que, por onde passava, não deixava nada igual, nada ileso. Rock n roll de pau duro em ritmo de mpb.

domingo, 4 de setembro de 2011

OS LABIRINTOS MENTAIS DE LADY MACBETH

          
  Após a estréia de “LADY MACBETH” sábado retrasado – e de ter ouvido alguns comentários –  decidi escrever algo sobre ele. Não com o intuito de explicá-lo (Chico Buarque sabiamente já disse que, quando um artista precisa explicar a arte para o público, um dos dois é burro) mas sim deixar claro - ou obscuros - alguns caminhos que percorremos para sua criação. Na verdade, tomei esta decisão até por sugestão de Escobar Franelas que, do alto do seu conhecimento artístico, não compreendeu – assim como muitos outros artistas presentes – que o volume exagerado da música do Joy Division era proposital. 

GENTE, NÃO TEM NADA NOVO AQUI!
Na verdade, o espetáculo não apresenta nenhum desafio intelectual. Lady Macbeth, após incentivar o marido, Barão Macbeth, assassinar o rei Duncan, vê o marido mergulhar em carnificina para manter o trono da Escócia. Ela enlouquece e atira-se da torre do castelo. O espetáculo representa justamente os momentos de insanidade da rainha, numa retrospectiva non sense de seus atos,  peso na consciência, arrependimento. O que temos em cena é uma louca que delira antes do suicídio. Ainda assim houve gente que saiu dizendo “Gostei, mas não entendi.”... A única coisa a ser entendida é que Lady delira. Para entender estes delírios é necessário conhecer a peça de Shakespeare, com certeza, mas uma pessoa de mente aberta perceberá certamente que o jogo vai neste sentido.

TEXTO NA INTEGRA
Cada cena, cada palavra, cada virgula. Tudo Shakespeare. “LADY MACBETH” é uma colagem de várias cenas do texto original, criando uma linha tênue de sentido ao espetáculo.

NON SENSE E SURREALISMO
O espetáculo trafega entre o surrealismo e o non sense, como nos filmes de David Lynch. Não há um sentido linear até mesmo porque estamos na mente de uma mulher insana que despedaça seus sentidos. Quer entender o quê, cara pálida? (como diria a índia Sueli Kimura).
Graças a esta lógica, nasceram cenas antológicas. Se as idéias iniciais são minhas (o filho despedaçado da Lady, a brincadeira com a luz e a provocação sensorial ao público), Anita também teve suas ótimas idéias e criou um final lírico, poético e rico em simbolismo. Quem tiver olhos pra ver, que veja.

A TRILHA (SONORA) DO SANGUE  
A trilha sonora do espetáculo é um show a parte. Composta por bandas do Reino Unido (Cocteau Twins, Dead Can Dance, Joy Division, New Order) e alguns clássicos da música mundial como Beethoven e Wagner. Cito aqui algumas peculiaridades para que o público possa usufruir melhor da sonoridade do espetáculo:

BEETHOVEN & FOLCLORE BRASILEIRO
Desde “Drácula” (2010) Anita trouxe aquela música aos ensaios “Alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado...” e por aí vai. A canção não foi aceita em Drácula, e  um ano depois ela traz para a Lady. Para abertura do espetáculo, escolhi “Sonata ao Luar”, do Beethoven, para dar uma clima ameno e poético para o inicio do espetáculo, uma falsa promessa de tranqüilidade nos próximos 45 minutos. Primeiro ensaio com som. Solto a música, acendo a luz e Anita entra cantando. Coisa mais linda do mundo. Abrantes juntou Beethoven e o nosso folclore de forma impar! Reconhecendo que está além das minhas capacidades, convido o músico Tarcísio Hayashi para dirigir aquele arranjo vocal. Ele aceita e  une profissionalmente tudo isto, colaborando com uma das mais belas cenas iniciais que já vi em um espetáculo. 

SHE’S LOST CONTROL          
As pessoas ficam muito incomodadas ao ouvirem Ian Curtis cantando “She’s lost control” em volume máximo e cobrindo a voz de Anita Abrantes logo na primeira cena. Na real, o texto, neste momento, não é importante, e sim a referência: Ian Curtis, vocalista da banda britânica Joy Division, que enforcou-se em 18 de maio de 1980. Uma década depois, ao ser questionado sobre a letra de suas canções, Bernard Summer (vocalista do New Order, que surgiu do Joy Division) perguntou ao jornalista quem disse a ele que a letra era mais importante que a música. Isto mudou totalmente meus conceitos cênicos estéticos sensoriais. E podem sair falando mal: o som vai continuar alto!


ELEGIA
Em certa cena, a música instrumental do New Order (Elegia) faz-se de tapete para a piração da Lady. A palavra “elegia” tem o significado de poema triste, consagrado ao luto e a tristeza. Durante um ensaio, disse a Tarcísio Hayashi que a música era do New Order. Ele espantou-se: “New Order, véio? Fazendo este climão!?!”  É, Hayashi. O que é a natureza, não?

LADY MACBETH OF THE MTSENSK DISTRICT
É uma ópera de Dmitri Shostakovich que encontrei acidentalmente na net, ao tentar baixar “Macbeth”, de Verdi.  Durante os ensaios, em conversas com Hayashi, descobrimos semelhanças sonoras entre Shostakovich, Villa Lobos e Arrigo Barnabé. A apropriação desta obra foi tão bem sucedida que até esqueci de Verdi.

VODU
A magia de Lady Macbeth bem que podia ser baseada nos celtas ou coisas assim, mas decidi colocar a macumba em cena. Tem gente que fica incomodada com a possessão da Lady e suas magias bardas ao som de tambores haitiano num vodu que muito lembra os pontos de umbanda e candomblé. Assustador!... E divertido!


RELAXE E VIVENCIE
Entrar em contato com uma mente que delira, se encontra e se perde dentro de um universo shakespeareano é uma experiência impar. Alguns sentem medo, outros mergulham com Lady do precipicio - e há ainda quem se solta no mar das palavras de Shakespeare e navega a deriva. Seja qual for o caminho escolhido, relaxe e vivencie. Lady Macbeth lhe mostrará os sinais sobre o significado da existência humana. .

LADY MACBETH
Da obra de WILLIAM SHAKESPEARE
Traduzido e Adaptado por CLAUDEMIR SANTOS
Interpretada por ANITA ABRANTES
Figurinos de MICHELE DIAS
Arranjo e preparação vocal: TARCISIO HAYASHI
Luz, som & direção: CLAUDEMIR SANTOS
Temporada: SABADO – AS 20H30
Até 24 DE OUTUBRO – ENTRADA FRANCA

Local: CASA AMARELA ESPAÇO CULTURAL
Rua Julião Pereira Machado, 07 – São Miguel Pta. – SP