Nunca foi segredo pra ninguém minha paixão pelas histórias de terror. Meus primeiros terrores vieram de histórias contadas pelos nordestinos que frequentavam minha casa quando eu era criança e ficava entre os adultos. Um terror primitivo: lobisomens que invadiam casas, fantasmas que voltavam para proteção ou por vingança – um universo de medos impressionantes. Eu mesmo juro que vi o diabo naquela noite em que eu tinha seis anos, quando ele puxou minhas cobertas e desapareceu antes de me tocar, assim que eu fechei os olhos.
Mas, antes que eu percebesse, novos medos foram trazidos pela televisão; na antiga Record, que me premiava toda a sexta com um filme de terror, sua maioria da Hammer, com Christopher Lee eternizando Drácula no meu coração. Amo este medo até hoje!
E não demorou muito então:aos dez anos, a biblioteca Raimundo de Menezes me trouxe terrores diferenciados e refinados em forma de livros de Kafka, Stoker, Shelley, King, Stenvenson... O saudoso diretor emestreAtílio Garret me apresentou Edgar Allan Poe e, por fim, retornei às lendas e mitos do folclore brasileiro que, na verdade, foi o inicio de tudo e é abordado neste novo trabalho.
Há três lugares em São Miguel que sempre me impressionaram: a capela dos índios, o terreno do antigo cemitério da Nordestina e o cemitério da Saudade.
A capela dos índios, construída em 1622, uma das mais antigas do Brasil, antes dessa reforma e aprisionamento, vivia aberta ao público, abandonada em sépia na praça do Forró, que alguns teimam em chamar de Praça Padre Aleixo Monteiro Mafra, não se sabe porquê. Perdi a conta de quantas fezes entrei nela desde a infância. Abandonada, iluminada pelo sol ou pela chuva, ela parecia congelada no tempo, um fantasma que se deteriora aos poucos, teimando ir para o além. Não havia como não gravá-la na memória. Quando li em uma HQ do Capitão Mistério a adaptação de “A conversão do Diabo”, de Leonidas Andreiev, lá por volta dos meus 09 anos, eu não tinha cenário melhor para o conto. Aliás, não tenho até hoje.
O antigo cemitério da Nordestina, entre as décadas de 80 e 90, ainda possuía escombros de túmulos e ossos espalhados pelo chão. O tom de cruzes azuis e pedaços de caixão apodrecido eram reconhecidos com facilidade.
Eu e meus colegas mais destemidos visitávamos o Cemitério da Saudade. Era uma grande valentia cruzar os corredores lendo nomes em lapides – uma vez encontrei um com o nome de minha mãe. Foi assustador!
Em “Demônios e Fantasmas de São Miguel”, eu trago a tona alguns destes seres que povoam o bairro e que a tecnologia e a luz elétrica não podem apagar. Juntei às minhas memórias uma pequena recordação de Mariana Santana (jovem atriz do Alucinógeno Dramático, que atuou em Dom Casmurro, Fausto de Rua e A Pata do Macaco) escrita por ela mesma, fechando este volume, que não visa revolucionar e nem trazer nada de novo. Pelo contrário: é um resgate inicial de uma pureza que se perde em meio à tecnologia e enlatados artificiais. Espero que vocês gostem tanto quanto eu gostei.
Leia na cama, antes de seu adormecer.
Boa leitura.
São Paulo, 19 de Abril de 2013.
23h45
LIVRETO "FANSTAMAS E DEMONIOS DE SÃO MIGUEL" SERÁ LANÇADO DIA 20 DE JULHO NA CASA AMARELA ESPAÇO CULTURAL
"Fantasmas e Demônios de São Miguel", o novo livret o de Claudemir Darkney Santos, será lançado sábado, 20 deJulho, no ARTE CANAL que acontecera na CASA AMARELA ESPAÇO CULTURAL (Rua Julião Pereira Machado, 07 - São Miguel, zona leste de São Paulo). Além do lançamento, o evento também contará com o show NOVO TESTAMENTO, do grupo G.R.A.Ve. e com uma apresentação especial do multi artista IVAN NERIS. O evento começa as 20h30.
ENTRADA FRANCA
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