quinta-feira, 16 de junho de 2011

AOS 36, COMO AOS 16, RETORNO E REENCONTRO BOB DYLAN OUTRA VEZ


Semana péssima.
A garganta, inflamada, não permite que minha voz ressoe por aí. Se fosse Marlon Brando em "O poderoso Chefão" seria lindo. Mas não é. Mas não sou.
Entreguei o TCC com dois dias de atrasos e R$40,00 gastos por desespero e burrice. E ainda acho que não cheguei a uma conclusão final. Inferno de semana.
E eu beirando os 36.
E acordo no dia 16 de junho, enfim.
Primeira coisa que faço: procurar aquele CD do Zé Ramalho cantando Bob Dylan.
As pessoas falaram mal do trabalho, mas tem umas músicas boas, sim; é só saber ouvir.
E eu ouço "tá tudo mundando".
 Dylan puro.
E eu volto aos meus 16 anos, ouvindo o "Highway 61 revisited" pela primeira vez.
O mesmo "revisited" que influenciaria "Rendez vous revisitado" e "G.R.A.ve" (Geladeira Revisitada Amarela e Vermelha". Dylan é tudo. O descobri duas vezes: na música e na poesia. E, de fato, fez minha cabeça - e como fez!
E certa vez, no Sesc Vila Mariana, quando eu ganhei um disco do Dylan pelas mãos do Marcelo Nova e do Luiz Carlini?!? Meu, minha vida poucas vezes foi tão rock n roll! (depois dessa, só os encontros com Jorge Mautner, quando ele me deu o "Deuses da Chuva e da Morte" e quando o Nasi tentou roubar meu isqueiro tipo zippo só que imitação barata que aliás até hoje nunca falhou diferente de uns zippos que falham mesmo.)

Por que volto a Dylan?
Não sei.
A verdade é que ainda me sinto com 16.
Não acho que fiquei muito mais inteligente do que já era nesta época. Talvez, sim, eu acho, mais esperto, mais observador, sabendo uma coisinha ou outra agora, como quando ficar de boca fechada pra não se estrepar e como flertar com uma garota - mesmo que isto não vá dar em nada, como antigamente.
Tirando isto, meu violão ainda é o mesmo: sem muita técnica, mas com muito rock n roll; meus contos também circulam os mesmos temas; aliás, começo a notar que são a continuação do mesmo num universo que se estende e existe, pulsante. Os amigos vinhos melhoram e são mais queridos a cada ano - e os amigos vinagres escorrem pelo ralo com mais rapidez hoje em dia.
Ainda amo animais.
Ainda acredito no amor,
nos filmes,
e que as mulheres são uma espécie de deusas, como todas as qualidades e defeitos que uma deusa deve ter. Ainda me sinto
inconsequente,
irreverente,
 irresponsável,
indaguento,
apaixonado
e violento.
Menos cabelos, todos os dentes, mas alguns já sem nervos para não doer. Ainda tenho sede de saber, descobrir, estar na noite com os amigos, flertar amores, me dedicar a uma paixão única, ouvir rock dos 80 no volume máximo, ler bobagens e, sobretudo, descobrir caras como Poe, Kafka, Machado de Assis, Albert Camus, Lou Reed, David Bowie, Iggy Pop e outras coisas fantásticas que descobri antes dos 20 e que até hoje me dizem muito, me mostrando novos mundos e novas descobertas,
como se eu ainda tivesse 16.
Ainda como se, pela primeira vez,
 eu colocasse Bob Dylan em meus ouvidos.


quarta-feira, 8 de junho de 2011

BERNARDO DOS OLHOS DE SOL - UM CONTO DE BELLOTO




Domingo passado estivemos no Conde Wlad Rock Bar em um sarau organizado pelo Akira Yamasaki em Tributo ao nosso amigo Cézar Augusto, o Cézar Baiano. No blog da  Casa Amarela escrevi um texto onde digo que o conheci em 1996. É verdade. Cézar me encantou tanto enquanto pessoa que tornou-se um dos personagens de Belloto. O interessante é que agora, às 7h39 da manhã de 08 de junho, ao rever o texto, percebo que o escrevi em Setembro de 96, antes mesmo de "Rendez-vous Revisitado" - mas, na cronologia da saga, "Bernardo" vem depois de "Rendez Vous".
Em "Bernardo", Belloto retorna a Espheras - sua cidade natal - e reencontra amigos e amores que deixou antes de partir para São Paulo: Duran, Vicente, Lúbio, e as irmãs Inês e Clara, seu grande amor de Espheras. Ele também encontra o novo padre da cidade, o padre Igor, outrora sacristão.
Inês e Clara cuidam do hospital infantil da cidade, com casos de violência doméstica e deficiências físicas e mentais.Entre estas crianças, está Bernardo, um garoto que quatro anos que o pai o cegou utilizando um produto químico que deixou seus olhos amarelados. De dia, a luz do sol reflete em seus olhos cegos e ofusca a vista de quem o olha. Duran tornou-se o que era antes: um bom vivant; Lúbio é o novo sacristão e Vicente, insano, está internado no hospital, com alguns momentos de lucidez. Esta volta de Belloto a Espheras revela segredos e sugere mistérios. um conto repleto de crimes e com, pelo menos, dois milagres e uma conversão. Redentor.
Me inspirou o conto a convivência com duas amigas de Poá - Selma e Lindi, aquele abraço! - as discussões sobre cultura e arte com Cézar e as aventuras donjuanescas que eu e Roberto C. Santhos tinhámos tentando conquistar as bealdades de Poá. Histórias loucas aconteceram, mas elas não estão em "Bernardo". Talvez eu as relate em breve, em outro lugar.

Ao folhea-lo esta manhã, senti necessidade de ler coisas que li aos 15, 16 anos. De lá pra cá, eu li muita coisa boa, excelente e inesquecível. Mas, de alguma forma, eu bem sei que o que movimenta minha arte chegou na minha vida antes dos meus 20 anos. O que chegou depois me amadureceu, mas não me moldou.
Pensando assim, preciso reler:

Contos de terror, de imaginação e de morte - Edgar Allan Poe
Nas Galerias, e outros contos - Franz Kafka
Batman: asilo Arkham - Grant Morrison/Dave MacKean
Memórias do medo - Edla Van Steen

Acredito que estas leituras me influenciaram de alguma forma nesta época na composição desta história. No mais, bom mesmo seria conversar com Cézar Baiano sobre estes livros e comentar sua participação como ator imaginário interpretando Vicente, um louco sábio. E, diga-se de passagem, de louco e sábio o Cézar tem de tudo um pouco. Inclusive no nome.

Abraços, meu amigo!